quinta-feira, 30 de julho de 2009

PACIÊNCIA




Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados... Muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.


Por muito pouco a madame que parece uma "lady" solta palavrões e berros que lembram as antigas "trabalhadoras do cais"... E o bem comportado executivo?

O "cavalheiro" se transforma numa "besta selvagem" no trânsito que ele mesmoajuda a tumultuar...

Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma "mala sem alça". Aquela velha amiga uma "alça sem mala", o emprego uma tortura, a escola uma chatice.

O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.

Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado.

Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.

Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.

A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.

Pergunte para alguém, que você saiba que é "ansioso demais" onde ele quer chegar?

Qual é a finalidade de sua vida?

Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.

E você?

Onde você quer chegar?

Está correndo tanto para quê?

Por quem?

Seu coração vai agüentar?

Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?

A empresa que você trabalha vai acabar?

As pessoas que você ama vão parar?

Será que você conseguiu ler até aqui?

Respire... Acalme-se.

O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência.


Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual.


Somos seres espirituais passando por uma experiência humana.



Paulo Roberto Gaefke

terça-feira, 28 de julho de 2009

Louco



Se me apetece rir de um louco,
não preciso de ir procurar muito longe;
rio de mim mesmo.

Lucius Annaeus Seneca

segunda-feira, 20 de julho de 2009

CÁRNEO



Teu olhar vazio não me diz nada de novo
e teu sorriso é um escárnio à minha situação.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A prostituta que roubava sonhos.



Era sempre assim, adormecia independente dos aborrecimentos do dia, totalmente entregue a esse mundo de devaneios que captura nosso espírito enquanto nosso corpo fica inerte.


Não tinha hora, nem motivos para que ela aparecesse. Sorrateiramente se infiltrava nas cenas mais paradisíacas, nas bucólicas, entre as festas e momentos solitários em que estava protegido sob as asas de Morfeu.


Ela vinha, com seu andar provocante, nas suas roupas espalhafatosas e começa a falar, desenfreadamente, palavras desconexas que turvavam meus pensamentos. E eu ali, parado, sem conseguir entender o porquê de sua presença, tinha náuseas, e aflito pela incompreensão despertava.


Não lembro quanto tempo ela me acompanhou, meses, anos ou apenas algumas noites, não sei dizer, como também não sei explicar sua razão de existir, até que em um dia, tudo mudou.


Depois de grande labuta, abandonei essa massa corpórea e me via entre um longo caminho, andando sem propósito, somente o desejo de sempre ir em frente. Ladeava esse caminho um córrego de águas transparentes, serpenteando por entre as pedras. Senti vontade de atravessar esse córrego e não foi tarefa difícil. Já no outro lado, subi em um pequeno morro e vi uma pequena casa de madeira, que trazia em sua estrutura as marcas impostas pelo tempo.


Senti que meus passos eram direcionados para a pequena varanda e ao me aproximar da porta fechada, reconheci um cheiro que tinha aprendido a gostar. Abruptamente abro a porta e guiado por esse cheiro inconfundível vou até uma outra porta entreaberta e lentamente abro-a, vejo minha prostituta sentada na beira de uma enorme cama. Trazia um sorriso safado em seu belo rosto, os seios desnudos e uma pequena peça de roupa que tentava em vão esconder suas partes pudendas.


Antes que ela pronunciasse a primeira palavra, que a levaria ao desenfreado desconexo, solto o animal que vive dentro de todo homem. Sedento de desejos lascivos, vou ao seu encontro já me desfazendo das roupas que me vestiam, estas se desfaziam à primeira tensão exercida, me deixando completamente nu. Com enorme voracidade ataquei minha presa, envolvendo seu corpo com todo o meu ser, sentindo sua pele quente que exalava o cheiro de sexo. Sua boca macia tocava meu corpo. Minhas mãos percorriam todas as suas curvas, procuravam os lugares mais escondidos. Não trocamos uma palavra, mesmo assim, dizíamos muito um ao outro.


Nesse frenesi, não percebo o tempo passar, não sei dizer quanto tempo foi necessário para satisfazer nossos desejos. Não percebo a alternância da luz do dia que entrava pela janela, meio fechada por um pedaço de cortina com estampas que já tinha visto não sei onde. Totalmente extasiado deito ao seu lado, sinto-me feliz, o corpo tomado por um torpor tão violento que me sinto tremer. Sorvendo esse turbilhão de sentidos, perco a consciência do que se passa ao meu redor.


Um grande nada invade todo meu ser, corpo, mente não fazem mais sentido.

Abruptamente meu corpo convulsiona e me traz de volta ao estado desperto. Percebo que ainda estou com meu membro teso, apesar de ter experimentado por mais de uma vez o ponto culminante do sexo, meu lençol é testemunha.


Todas essas lembranças me acompanham vividamente, como se estivessem cunhadas em mim. Longo tempo já se passou desde que entrei naquela pequena casa.


E ela? Nunca mais voltou.




quinta-feira, 9 de julho de 2009

Não censure o povo.





Não censure o povo.

O meio, as circunstâncias fazem-no piores

do que na verdade ele é, tanto no Oriente

como no Ocidente. É a sociedade que

deve se levantar, despertar espiritualmente

e substituir seu desastroso materialismo

por um ideal qualquer.

Não há outro remédio para sarar as chagas

purulentas das nações, a corrução,

a agonia da sociedade, são justamente

os males dos quais sairá uma solução,

é assim também em relação ao indivíduo,

quando uma série de desgraças nos cerca,

é uma advertência de que chegou o momento

de tomarmos outro rumo na vida!



Shri Shankara




terça-feira, 7 de julho de 2009

Procura e acharás.



Busca por entre as pedras,

a verdade oculta pelas folhas

carcomidas pelo tempo,

oculta dos olhares profanos,

que nada dizem de novo,

servem só para que não tem...


quinta-feira, 2 de julho de 2009

maya




Às vezes sinto um pesar por existir.


Porque os sentimentos têm esse poder sobre nós?


A Divina Providência nos faz passar por caminhos

tortuosos. Sei que muitas vezes reclamamos sem razão,

pelo simples fato de que em nossa essência somos insaciáveis.


Pagamos um alto preço pelo pecado original,

e aumentamos nossa dívida ao ignorar o que

nos foi predito e a agir de maneira inconseqüente

nas provas que nos são impostas.


Impaciência, rispidez, egoísmo e a sempre existente

- e talvez o mais errado de nossos sentimentos -

“certeza” de que não erramos.


Sim erramos, todos erram. Já foi dito que errar

é da natureza humana, então porque relutar,

porque não estender a mão e admitir, é simples,

extremamente simples.


Nosso orgulho - puro e besta - nos deixa

empedernido, exalando uma altivez tão frágil

quanto a nossa própria existência corpórea.


Se tudo isso é um sonho. Se for maya,

ou como já foi dito “um reflexo pervertido

da realidade”, peço humildemente: mostre-me

quem sou, deixe-me ver que o rosto na minha

frente é meu também, deixe-me saborear

o doce gosto da felicidade nos braços da tristeza.