quarta-feira, 15 de julho de 2009

A prostituta que roubava sonhos.



Era sempre assim, adormecia independente dos aborrecimentos do dia, totalmente entregue a esse mundo de devaneios que captura nosso espírito enquanto nosso corpo fica inerte.


Não tinha hora, nem motivos para que ela aparecesse. Sorrateiramente se infiltrava nas cenas mais paradisíacas, nas bucólicas, entre as festas e momentos solitários em que estava protegido sob as asas de Morfeu.


Ela vinha, com seu andar provocante, nas suas roupas espalhafatosas e começa a falar, desenfreadamente, palavras desconexas que turvavam meus pensamentos. E eu ali, parado, sem conseguir entender o porquê de sua presença, tinha náuseas, e aflito pela incompreensão despertava.


Não lembro quanto tempo ela me acompanhou, meses, anos ou apenas algumas noites, não sei dizer, como também não sei explicar sua razão de existir, até que em um dia, tudo mudou.


Depois de grande labuta, abandonei essa massa corpórea e me via entre um longo caminho, andando sem propósito, somente o desejo de sempre ir em frente. Ladeava esse caminho um córrego de águas transparentes, serpenteando por entre as pedras. Senti vontade de atravessar esse córrego e não foi tarefa difícil. Já no outro lado, subi em um pequeno morro e vi uma pequena casa de madeira, que trazia em sua estrutura as marcas impostas pelo tempo.


Senti que meus passos eram direcionados para a pequena varanda e ao me aproximar da porta fechada, reconheci um cheiro que tinha aprendido a gostar. Abruptamente abro a porta e guiado por esse cheiro inconfundível vou até uma outra porta entreaberta e lentamente abro-a, vejo minha prostituta sentada na beira de uma enorme cama. Trazia um sorriso safado em seu belo rosto, os seios desnudos e uma pequena peça de roupa que tentava em vão esconder suas partes pudendas.


Antes que ela pronunciasse a primeira palavra, que a levaria ao desenfreado desconexo, solto o animal que vive dentro de todo homem. Sedento de desejos lascivos, vou ao seu encontro já me desfazendo das roupas que me vestiam, estas se desfaziam à primeira tensão exercida, me deixando completamente nu. Com enorme voracidade ataquei minha presa, envolvendo seu corpo com todo o meu ser, sentindo sua pele quente que exalava o cheiro de sexo. Sua boca macia tocava meu corpo. Minhas mãos percorriam todas as suas curvas, procuravam os lugares mais escondidos. Não trocamos uma palavra, mesmo assim, dizíamos muito um ao outro.


Nesse frenesi, não percebo o tempo passar, não sei dizer quanto tempo foi necessário para satisfazer nossos desejos. Não percebo a alternância da luz do dia que entrava pela janela, meio fechada por um pedaço de cortina com estampas que já tinha visto não sei onde. Totalmente extasiado deito ao seu lado, sinto-me feliz, o corpo tomado por um torpor tão violento que me sinto tremer. Sorvendo esse turbilhão de sentidos, perco a consciência do que se passa ao meu redor.


Um grande nada invade todo meu ser, corpo, mente não fazem mais sentido.

Abruptamente meu corpo convulsiona e me traz de volta ao estado desperto. Percebo que ainda estou com meu membro teso, apesar de ter experimentado por mais de uma vez o ponto culminante do sexo, meu lençol é testemunha.


Todas essas lembranças me acompanham vividamente, como se estivessem cunhadas em mim. Longo tempo já se passou desde que entrei naquela pequena casa.


E ela? Nunca mais voltou.




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